A minha amada não voltou
Não sei mais o que fazer
É desejo que enlouquece
Que esmaga o meu viver
Saber esperar é uma virtude
Mas estarei eu a delirar?
Não, eu não perdi a esperança!
De a voltar a abraçar
Sempre com este rasgo de esperança
De algum dia a voltar a ver
É assim a minha vida
A sofrer e a escrever
Deram agora seis horas
Nos bronzes da catedral
Meu amor não venhas tarde
Não me deixes passar mal!
(Passam vultos e ela tarda)
Estou ficando torturado
Mais uma vez me mentiste
Tu faltaste ao combinado
As folhas do arvoredo
Também no ar lá se vão
A cacimba vai alastrando
Já me dói o coração
Na minha alcova solitária
Onde agora te estou aguardando
Não tardes, ó vida minha!
Que eu continuo esperando
Mas anoitece e tu não vens
E eu cheio de ansiedade
Aparece, ó meu amor!
Vem matar esta saudade!
Eu continuo no posto
Sou atenta sentinela:
Dou duas voltas à casa
E venho olhar à janela
O meu coração descontrola
Só me apetece dar ais
Ó meu amor vem depressa
Ou chegas tarde demais!
Põe a mão na consciência
Pensa bem na minha dor:
Um homem desesperado
Pode bem morrer de amor
José Rodrigues Antunes
(n.1927)
Mais desta poesia em:
Silêncios Magoados
Volume 2